Centro de Estudos e Pesquisa sobre Álcool e outras Drogas

Álcool e drogas presentes em um terço das mortes no trânsito no Estado do Espírito Santo

É o que mostra um levantamento realizado no Departamento Médico Legal de Vitória

A mistura de álcool e direção e o uso de entorpecentes têm se revelado cada vez mais perigosos para quem circula pelas vias do Estado. Prova disso é que, entre todas as 441 pessoas que morreram em acidentes de trânsito entre janeiro deste ano e o último dia 4, 34,9% haviam ingerido bebida alcoólica ou consumido maconha ou cocaína. Os exames foram feitos pelo Departamento Médico Legal (DML) nesse período.

No universo de vítimas de acidente com motocicletas foram 141 exames. Desse total, 43% consumiram algumas das substâncias. E essa combinação não representa perigo só para quem está motorizado. As estatísticas apontam que, entre as vítimas de atropelamento – foram 94 analisadas –, 44,68% haviam bebido ou usado maconha ou cocaína. 

Para o presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego no Espírito Santo (Abramet), Sandro Rotunno, o quadro é preocupante. "Usando esse tipo de substância, as pessoas não percebem a situação de risco em que se encontram", observa.

Rotunno considera que essa perda da noção da aptidão real de dirigir torna necessário que as punições sejam mais rigorosas. "Há pessoas responsáveis que poderiam usar o carro após uma pequena quantidade de álcool. Mas a dificuldade para se estabelecer esse parâmetro torna a tolerância zero necessária", diz. 

O titular da Delegacia de Delitos de Trânsito, delegado Fabiano Contarato, aponta que os dados são alarmantes e devem ser ainda mais graves. "Esse número representa apenas as vítimas que morreram no local do acidente. Não contabiliza quem foi encaminhado a hospitais."

Para ele, a mudança passa pela intensificação de três fatores: fiscalização, educação no trânsito e mudança nas leis.

O DML realiza cerca de 15 mil análises anuais. O trabalho é feito por sete peritos bioquímicos, coordenados pela perita bioquímica toxicologista Josidéia Mendonça. Para ela, os números mostram a necessidade de campanhas de conscientização e de fiscalização. 

Afogamentos

Álcool e drogas também são responsáveis pela grande quantidade de mortes por afogamento. Segundo a pesquisa, apenas neste ano, das 20 vítimas, 40% estavam sob essa condição.

Segundo o Corpo de Bombeiros isso ocorre porque, ao consumir algum tipo de entorpecente, as pessoas têm reduzida a sensação de perigo e os reflexos. "Assim, é mais fácil se arriscar em um nado mais longo ou mesmo tentar algum salto mais arriscado, quando se trata de rio ou cachoeira", aponta o tenente-coronel do Corpo de Bombeiros Samuel Rodrigues Barbosa.

A mistura de álcool e direção foi duplamente trágica para a família do caminhoneiro aposentado José Isaías de Paula, 61 anos. Na madrugada do dia 6 de novembro de 2010, ele perdeu as duas filhas – Joyce Pernambuco de Paula, 27 anos, e Jamile Pernambuco, 30 –, após um acidente, em Vitória.

Elas voltavam de uma boate quando o carro em que estavam, conduzido pelo estudante de Direito Guilherme Tait Queiroz, então com 21, bateu num poste na Avenida César Hilal, Praia do Suá. Segundo a polícia, ele não tinha habilitação, aparentava ter bebido e dirigia a 120km/h.

O rapaz não foi preso. "A única punição foi uma fiança, que ele pagou no mesmo dia", diz o pai. Para Isaías e a mulher, a enfermeira Acyoman, a vida nunca mais foi a mesma: "As lembranças voltam todos os dias. Sempre ao chegar em casa, sentimos a falta delas".

Os números da pesquisa

Acidentes de carro

– 441 mortos

– 34,92% haviam bebido ou consumido maconha ou cocaína

– 0,23 % usou maconha

– 1,13 % usou cocaína 

– 29,71 % ingeriram álcool

– 3,86% combinaram algumas dessas drogas

Acidentes de moto

– 141 mortos

– 43% haviam bebido ou consumido 
maconha ou cocaína

– 0,71% usou maconha

– 37,59% ingeriram álcool

– 4,97% combinaram algumas dessas drogas antes de morrer

Atropelamentos 

– 94 mortos

– 44,68% haviam bebido ou consumido maconha ou cocaína

– 1,06% usou maconha

– 41,49% ingeriu álcool

– 2,13 combinaram algumas dessas drogas antes de morrer

Fonte: DML
 

 

Fonte: A Gazeta – 22.10.2012

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