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Membrana pode filtrar água do mar

Separar o sal da água do mar como se coasse o café por um filtro de papel. Embora seja uma comparação grosseira, foi isso que pesquisadores do Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP conseguiram ao desenvolver uma membrana semipermeável.

Toda membrana serve para separar meios líquidos ou gasosos, mas esta é composta por folhas de polímeros com poros minúsculos que só permitem a passagem de moléculas tão pequenas como as de água e gás carbônico.

Classificada como nanofiltro (da medida de Angstroms, 10-10 metros), ela impede a passagem do sal no processo de filtragem, promovendo uma dessalinização de até 90%. Dependendo do teor de pureza, a água resultante poderia, se aprovada pela Anvisa, até servir para consumo.

Desde de 2008, o grupo conduzido pelo professor Grégoire Jean François Demets, do Departamento de Química da FFCLRP vem trabalhando no projeto.

“Trata-se de uma nova tecnologia e aplicação. Tubos minúsculos e vasados, chamados de cavitandos, são colocados na matriz do polímero dentro das moléculas. Esses cavitandos são estruturas com uma cavidade central que permitem o trânsito de moléculas pequenas como a água. Na filtragem da água do mar, o sal fica retido nessas estruturas”, explica o pesquisador.

Viabilidade

O residual deixado pela dessalinização, em hipótese, poderia virar sal ou ser devolvido ao mar – a viabilidade disso depende de estudos e avaliações de impacto ambiental, entre outros.

Essa filtragem é simples e barata se comparada aos processos que levam solventes, por exemplo, e também não requer uma troca de fase para remoção de água, nem equipamentos auxiliares como aquecedores, evaporadores ou condensadores.

A membrana semipermeável pode ser confeccionada em três tipos de polímeros: o Poliuretano (PU), Policloreto de Vinila (PVC) ou Fluoreto de Polivinilideo (PVDF), plásticos com características mais flexíveis. Ela é reutilizável, completamente reciclável e resistente a produtos químicos. O grande diferencial da invenção é o baixo custo da matéria-prima utilizada.

De acordo com Demets, uma maneira de otimizar o processo seria colocar a molécula na forma de hastes de fibra oca, feita à base ureia e formol e também desenvolvida pelos pesquisadores em laboratório. Assim, elas poderiam ser inseridas numa espécie tubo para passagem da água, aumentando a capacidade de filtragem.

“Depois de provar que o processo é possível, a próxima fase é reproduzi-lo em grande escala. Para isso, dependemos de parcerias para, em longo prazo, tornar essa tecnologia em produtos para o mercado”, indicou o pesquisador.

Tecnologia foi patenteada

A tecnologia já teve o seu processo de patente realizado pela Agência USP de Inovação e está disponível para licenciamento ou parceria com a USP para desenvolvimento industrial e comercialização.

“Empresas de tratamento de água, governos, em especial da região do Nordeste do Brasil e de países com pouca oferta de água podem ser interessados”, avalia o professor Grégoire Jean François Demets.

Dentre as atividades realizadas pela Agência estão: a proteção da propriedade intelectual; apoio aos docentes, alunos e funcionários da USP na elaboração de convênios em parceria com empresas.

Ela também atua na transferência de tecnologias e trabalha por meio das incubadoras.

Processo pode ser aplicado para outros fins

A mesma tecnologia pode ser aplicada para outros fins, como em separadores de baterias, purificação de gases e curativo para queimados.

“Uma vez que a membrana pode ser produzida mais maleável e fina e é biocompatível, isto é, não provoca reações tóxicas, poderia ser aplicada como curativo de queimaduras. As vantagens é que o produto permitiria a respiração da pele e protegeria contra vírus e bactérias, acelerando o processo de cura”, considerou o professor Grégoire Jean François Demets.

Outra aplicação é a esponja de polímero. Barata, reciclável e de fácil utilização, ela tem a capacidade de remover finas camadas de petróleo ou qualquer outro óleo ou produto químico que não se mistura à água do mar. Também desenvolvida no Departamento de Química da FFCLRP, a esponja tem alto poder de absorção: basta colocá-la no local de contaminação para que absorva 99,5% do óleo; ela pode ser reutilizada pelo menos dez vezes.“As estruturas dela conseguem capturar e armazenar em suas cavidades moléculas que compõem o petróleo”, explicou Demets.

Sua utilização pode ser determinante na parte final do controle de derramamento de óleo, pois absorveria o residual deixa pelo processo de bombeamento empregado nesses casos. 

 

Fonte: A Cidade

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